Olá Pessoal!!! gostaria muito que vcs desse uma olhadinha nesse blog da Leila Nobre. é muito legal.
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História e Ambiências
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Liceu do Ceará
Liceu do Ceará
Liceu vem do grego lykeion, escola filosófica com ênfase para ciências
naturais criada por Aristóteles em 336 a.C., rival da Acadêmica Platônica.
O Liceu de Aristóteles se tornou um modelo de ensino do antigo curso
de humanidades, de modo a inspirar o estabelecimento de várias instituições de ensino,
principalmente o ensino secundário e o profissionalizante, que em justa
homenagem, recebem o nome de Liceus.
naturais criada por Aristóteles em 336 a.C., rival da Acadêmica Platônica.
O Liceu de Aristóteles se tornou um modelo de ensino do antigo curso
de humanidades, de modo a inspirar o estabelecimento de várias instituições de ensino,
principalmente o ensino secundário e o profissionalizante, que em justa
homenagem, recebem o nome de Liceus.
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Sede do Liceu na Praça dos Voluntários, Centro de Fortaleza. Desenho de Gustavo Barroso, ex-liceísta |
O Liceu do ceará é o terceiro colégio mais antigo do Brasil e, mesmo tendo passado por várias crises, no ano de 2005, comemorou seus 160 anos ininterruptos de funcionamento.
Foi criado no período imperial (século XIX), assim como alguns colégios contemporâneos de outras províncias, inspirado nos moldes do Colégio Dom Pedro II, uma instiuição-modelo de ensino criada em 1837 no Rio de Janeiro, então capital do império. No intuito de agregar cadeiras já existentes e facilitar a inspeção do ensino público no Ceará, em 15 de julho de 1844, o presidente da província, Marechal José Maria da Silva Bittencourt sancionou a lei n.º 304, criando oficialmente o Liceu:
“Art. 1º - Fica creado nesta capital um lycêo que se comporá das cadeiras seguintes: phylosophia racional e moral; rethorica e poética; arithmetica; geometria; trigonometria; geografia, e historia; latim, francez e inglez.”
As atividades escolares tiveram início em 19 de outubro de 1945, com 98 matrículas, sob direção do Dr. Thomas Pompeu de Souza Brasil, o Senador Pompeu. O curso secundário tinha duração de 6 anos e, de início, as aulas eram ministradas nas próprias casas dos professores. Somente em 1894, no governo do Coronel Bezerril Fontenele, foi inaugurada a sede própria do Liceu (figura 1), à Praça dos Voluntários, no centro de Fortaleza.
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Figura 1 – Edifício do Liceu na praça dos voluntários (já demolido), onde hoje se encontra o prédio da Polícia Civil. Foto do acervo do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS). |
No tempo em que o Liceu foi criado, Fortaleza era uma pequena cidade com pouco menos que 5.000 habitantes, resumindo-se a poucas ruas no centro da cidade. Nessa época, os colégios eram privilégio da elite. Não apenas porque os colégios eram poucos, mas também pelos custos que representavam a uma sociedade pobre em recursos. Além disso, na época era comum em colégios públicos a cobrança de taxas, como ocorria inclusive no Colégio Dom Pedro II, que reservava poucas vagas para pessoas que não tinham condições de pagar.
Com o crescimento da cidade e o surgimento de novos colégios, como a Escola Normal, o Colégio São João, Colégio Fortaleza, o Cearense, São José, entre outros, o ensino secundário foi se democratizando em Fortaleza, e inclusive no Liceu, que no século XX, passou a ter maior abertura para alunos pobres e oferecer o ensino misto, pois durante muito tempo foi um educandário estritamente masculino. As moças estudavam na Escola Normal.
Todos os ex-liceístas que estudaram até a década de 50 lembram o rigor da disciplina no Colégio. Os alunos só entravam no colégio de fardamento completo: calça, camisa com os 7 botões fechados e quepe. Numa época em que os costumes da sociedade eram muito mais rígidos, a disciplina marcou profundamente o Liceu. Qualquer deslize era motivo de punição.
Para ajudar o diretor e os professores no controle da disciplina, existiam os bedéis (inspetores), que fiscalizavam o fardamento dos alunos na entrada do colégio, faziam a chamada em sala e circulavam pelo colégio observando o comportamento dos alunos. Blanchard Girão, no seu livro “O Liceu e o Bonde” relata que os bedéis, extremamente fiéis, delatavam as travessuras dos alunos para o diretor até fora do colégio; e quando não era mais possível suspender um aluno, por ter feito travessuras depois das provas finais, a suspensão vinha no início do ano letivo seguinte.
Mesmo toda a disciplina da época não conseguiu anular as criancices dos alunos, e até os mais ilustres ex-liceístas cometeram suas travessuras: aplicaram trotes, fugiram do colégio para matar aula, aprontaram com os bedéis, professores e outros alunos, fizeram pichações, e reuniram-se para fumar no banheiro.
Mas nada disso os impediu de tornarem-se admiráveis seres humanos, uma vez que estavam cercados pela elite cultural cearense e tinham formação da mais alta qualidade.
Os professores do Liceu eram os melhores do estado e, às vezes, até de fora, pois para ser professor catedrático do Liceu era necessário passar por um rigoroso concurso público, tendo que defender tese e mostrar todo seu conhecimento e integridade moral. Além disso, os professores trabalhavam motivados: eram amplamente respeitados e admirados pelos alunos e o resto da sociedade. Ser professor era uma das mais nobres profissões e os salários dos professores equiparavam-se aos de desembargadores.
A escola funcionava e a educação realmente acontecia pois os professores eram bons, trabalhavam motivados e os alunos tinham interesse em aprender. Esses recebiam uma formação multidimensional. Além das aulas teóricas de português, matemática, história, biologia, etc, tinham aulas de música, praticavam esportes olímpicos, tinham formação política extracurricular e um grande crescimento pessoal devido à convivência com alunos de diferentes classes sociais.
Como diz Blanchard Girão, o Liceu era um espaço de politização e mobilização estudantil, uma vez que os professores já admirados elos alunos, tinham total liberdade para discutir com os alunos os assuntos mais polêmicos da atualidade. O Liceu formava então alunos politizados e também atuantes. Era comum ver os alunos do Liceu em passeatas agitadas pelo centro de Fortaleza, protestando contra o aumento dos salários dos deputados estaduais, à favor da anistia de presos políticos ou contra o nazismo, durante a segunda guerra mundial (figura 2).
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Figura 2 – Alunos do Liceu na época da II Guerra Mundial (Estado Novo), em passeata a favor da democracia e contra o fascismo. Foto do livro “O Liceu e o Bonde” de Blanchard Girão. |
Por tudo isso, até a metade do século XX, o Liceu foi o expoente da educação no Ceará. Matricular-se no Liceu era tanto quanto ser aprovado no vestibular. Os alunos tinham orgulho de vestir sua farda. O liceu se projetava em todos os planos: tinha o melhor corpo docente, os melhores estudantes, o maior índice de aprovados em vestibulares, campeão de olimpíadas estudantis, vitorioso nas paradas cívicas da Semana da Pátria, a tinha a melhor banda, além de ex-alunos bem sucedidos nas mais diversas profissões no Brasil e no exterior.
Tamanho era o privilégio de estudar no Liceu, que os veteranos rotineiramente aplicavam trotes aos novatos, que eram chamados de bichos-fedorentos, como ilustra Gustavo Barroso, ex-liceísta do início do século XX, no seu livro Liceu do Ceará:
“Não houve bicho fedorento que escapasse totalmente aos trotes dos desalmados veteranos do Liceu. Todos fizeram discursos bestialógicos trepados na margela do cacimbão da praça, em riscos de cair lá dentro. Todos subiram ao cocuruto do chafariz Wallace, para fingir de estatua. Todos se escancharam nos galhos das árvores e fôram cassados a caroços de monguba, como guaribas. Um dia encheram de estrume fresco de cavalo o boné de xadrezinho que eu trazia do colegio e m’o enterraram até as orelhas. Lavei a cabeça, mas o boné ficou imprestavel e teve de ir para o lixo.”
Com toda sua qualidade de formação dos alunos e seu ambiente de erudição, o Liceu produziu inúmeros intelectuais, políticos, escritores, jornalistas, médicos, empresários, desportistas e músicos de projeção nacional e internacional – personagens importantíssimos da história de Fortaleza, do Ceará e do Brasil. Entre eles: Adolfo Bezerra de Menezes, Guilherme de Studart (Barão de Studart), Gustavo Barroso, Rodolfo Teófilo, João Brígido, Clóvis Beviláqua, Eleazar de Carvalho, Raimundo Girão, César Cals de Oliveira, Farias Brito, Plácido Castelo, Perboyre e Silva, Parsífal Barroso, Antônio Girão Barroso, Paes de Andrade, Edson Queiroz, Blanchard Girão, Fausto Nilo e Belchior. Além do “Bando Liceal”, do qual surgiram bandas de ex-alunos como “Quatro azes e um coringa” e os “Vocalistas Tropicais”, que fizeram sucesso em todo Brasil nas décadas de 40 e 50.
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Figura 3 – Prédio onde o Liceu funciona desde 1937, na praça Gustavo Barroso (antes, Praça Fernandes Vieira), no bairro de Jacarecanga. |
Hoje o Liceu é mais um colégio da rede estadual de ensino público. Oferta o curso de Ensino Médio – EM e funciona nos três turnos. Pela manhã e pela tarde, são em média 9 turmas por série (1º, 2º e 3º ano) e duas turmas de pré-vestibular. Pela noite, há 5 turmas de cada série e 6 turmas de pré-vestibular. No total são 30 turmas de manhã, 29 de tarde e 21 de noite. Cada turma possui no máximo 40 ou 60 alunos, dependendo do tamanho da sala. Devido à evasão, no período diurno as turmas possuem em média 40 a 50 alunos, e no período noturno, no qual a evasão é maior, possuem em média 30 a 40 alunos.
ENSINANDO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CEARÁ E DO CARIRI CEARENSE: PESQUISA E ENSINO NA GRADUAÇÃO
ENSINANDO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CEARÁ E DO CARIRI CEARENSE:
PESQUISA E ENSINO NA GRADUAÇÃO
Zuleide Fernandes de Queiroz
Universidade Regional do Cariri
RESUMO
Durante nossos estudos de Doutoramento tivemos a necessidade de resgatar a história da educação na
região do Cariri Cearense. Naquele momento nos deparamos com a falta de estudos sistematizados
acerca da temática ocasionando, no primeiro momento, a construção de um trabalho que, hoje, o
consideramos fragmentado. A experiência nos motivou ao desafio de lecionarmos, no Curso de
Pedagogia a Disciplina Historia da Educação no Ceará e no Cariri, situação oportuna para registrarmos
a história das instituições educacionais e de professores dos municípios da região do Cariri, tomando
por base os estudos de Magalhães (1999) sobre histórias de instituições educacionais. Foi assim que
em 2003, com o apoio dos alunos da graduação matriculados na disciplina iniciamos a experiência de
articulação ensino e pesquisa. Através de um Projeto Matricial intitulado “História da Educação no
Cariri: resgatando história de instituições e de professores” estamos resgatando a história da
educação no Ceará buscando registros oficiais e particulares da história da educação da região - a
história das instituições educacionais e seus principais sujeitos, via fontes oficiais e orais. A primeira
etapa da pesquisa se dá com o levantamento das fontes já construídas de estudos anteriores, autores
locais, pesquisas de outras universidades, documentos, etc. Em seguida apresentamos na forma de
Seminário as pesquisas realizadas pelos alunos do Curso que anteriormente cursaram a Disciplina.
Nesta ocasião eles relatam suas experiências, sua motivação e as dificuldades oportunizando aos novos
pesquisadores o conhecimento novo e a imensidão de oportunidades de resgate histórico na área de
educação. Na seqüência, os alunos em suas localidades vão buscar conhecer as instituições e suas
histórias, a partir do relato dos mais velhos, de políticos e/ou de familiares. Durante as aulas os alunos
trazem esses resultados e em grupos ajudamos a definir o objeto de estudo de cada um ou de grupos
constituídos por alunos que residem no mesmo município. Nas aulas também construímos os roteiros
de pesquisa - roteiro de história de vida e de instituições, roteiro de pesquisa em arquivos públicos e
particulares e carta de apresentação da pesquisa. Iniciamos todas as pesquisas e conciliamos as sessões
das aulas em revisão de literatura acerca do referencial teórico-metodológico e apresentação das etapas
de execução do estudo. Ao final de cada semestre realizamos Seminário de apresentação dos
resultados daquele momento e os registros escritos compõem o acervo construído pela Pesquisa
Matricial. A referida pesquisa vem registrando a educação no Cariri Cearense envolvendo,
levantamento documental oficial e privado, a memória de políticos, educadores e educandos, através
de entrevistas, histórias de vida, biografias, autobiografias e iconografias, que são gravadas e/ou
filmadas e fotografadas, adquirindo, assim, o caráter de documento e fonte de pesquisa histórica para
constituição de um acervo, com a função de alimentar e ampliar permanentemente a área de pesquisa,
bem como o uso público do acervo catalogado pelos pesquisadores, professores, estudantes,
estagiários, bolsistas e público em geral. Vale salientar que, dentro de nossos objetivos também
contemplamos a idéia de formar um acervo iconográfico que poderá constituir um pequeno museu da
memória da educação nesta região do Estado. Até o momento resgatamos a história de 57 instituições
educacionais e de 30 professores que datam dos séculos IX e XX. Entendemos que a pesquisa
histórica no campo educacional tem dupla valia: tanto pode recuperar o passado educacional de uma
região, quanto alimentar o sistema local e estadual de planejamento educacional, em relação às
necessidades presentes e futuras da sociedade. É uma prática de pesquisa que tende a envolver
diversos segmentos da sociedade de forma interessada a ponto de extrapolar os muros da universidade.
Como área de múltiplos interesses, a história educacional pode envolver professores e alunos da área
de história, geografia, sociologia, antropologia, letras, engenharia, saúde, etc. Do ponto de vista do seu
aprimoramento metodológico, a área só tem a ganhar com a formação de equipes multidisciplinares,
desde que não perca de vista a sua função primordial de reconstrução do passado educacional como
fonte de reflexão para uma prática futura. O espaço regional não é visto como um espaço social
isolado, mas parte de uma teia de relações de mobilidade espacial e cultural, material e simbólica da
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atividade social que acabam por ligar todos os lugares e tempos do mundo. O resgate da História
Educacional tem, neste contexto, um papel relevante a ser considerado - a formação do professorpesquisador.
Observamos que a experiência tem permitido a formação de um professor que busca
conhecer sua realidade local, suas relações com as outras realidades e a construção de sua identidade
de professor que conhece e vivencia a sua história.
TRABALHO COMPLETO
1 – Ensino de História da Educação
Introdução
Sabendo da necessidade de ter uma visão mais integrada das diversas instituições
educacionais existentes na região, sentimos a necessidade de conhecer as origens de suas formações.
Saber da importância de conhecer esta história nos remete à leitura do trabalho de Magalhães,
fundamental para a definição dos atores a serem pesquisados – as instituições educativas, no caso
específico, as instituições educacionais da região do Cariri, que ao longo do seu desenvolvimento
foram responsáveis pela formação escolar de seu povo.
Nosso interesse pelo tema tem como referência os trabalhos já publicados e as reflexões
acumuladas na área. Magalhães afirma que um estudo desta natureza é carregado de significado, pois
assim se:
[...] constrói um projeto pedagógico, indo ao encontro de um determinado
público, constituindo-se, deste modo, a relação e a razão fundamentais para a
manutenção e desenvolvimento do seu projeto educativo – um processo que
envolve dimensões humanas, culturais e profissionais de diversas naturezas:
dimensões pedagógicas, sociológicas, administrativas, relações de poder e de
comunicação, relações de transmissão e apropriação do saber 1
(MAGALHÃES, 1999, p. 69).
A escolha do estudo de instituições se deveu ao fato de podermos conhecer a história
educacional. Ou seja, saímos do nível das idéias e intenções e passarmos a visitar ou revisitar o
cotidiano das instituições educacionais e da vida dos atores envolvidos, podendo assim, gerar novos
estudos acerca de uma temática tão importante para a história de um lugar. Pois:
O quotidiano de uma instituição educativa é um acúmulo de comunicação,
tomada de decisões e de participação, cuja representação e memória apenas
em parte ficam vertidas a escrito, ou traduzidas noutro tipo de registros, mas
boa parte das quais se apagam, quer por se integrar em rotinas, quer pela sua
freqüência, não constituem um objecto de registro próprio, quer porque se
inserem num processo continuado, tendendo a fixar-se-lhe o princípio e o
fim, sendo este, em regra, assinalado por um registro dos resultados. É assim
com o processo de ensino-aprendizagem; os alunos inscrevem-se através de
um termo de matrícula e o seu percurso escolar fica assinalado e numa
certificação final. Do processo de ensino, para além destes mesmos
resultados, fica apenas uma memória analógica suportada pelos sumários. De
facto, o cotidiano de uma instituição educativa fica representado por defeito,
nos registros e fontes de informação, havendo mesmo dimensões desse
quotidiano, cuja memória se apaga com a mudança dos actores e muitas
outras que são regularmente destruídas. (MAGALHÃES, 1999, p. 69).
Na verdade, o estudo da história das instituições pode tomar um sentido de pesquisa em
nível interno e externo, em suas relações sócio-político-econômicas com o poder local. Em nível
interno, o estudo das instituições leva as próprias instituições a uma avaliação da sua trajetória e o
1 Magalhães, Justino Pereira. Breve Apontamento para a história das instituições educativas. São Paulo:
Cortez, 1999.
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pesquisador ao entendimento das relações destas com a política governamental, nos casos em estudo.
Nesse sentido, o estudo poderá objetivar ainda:
[...] conhecer e caracterizar os órgãos de gestão, direcção, explicar como se
efetua a comunicação interna e externamente; conhecer e caracterizar as
relações de poder, as hierarquias e as instâncias com capacidade de decisão;
conhecer e caracterizar o corpo docente, administrativo e auxiliar; conhecer
e avaliar as formas de participação por parte dos diversos actores, a título
individual, grupal ou de representação; conhecer a relação e a participação
da comunidade envolvente; as relações com o poder central e com os
poderes regionais e locais (Ibid. p. 71).
O estudo se situa num determinado local e com uma temporalidade marcada por situações
próprias da sua realidade. No caso, estamos falando de uma pesquisa realizada no sul do Ceará, mais
especificamente da região do Cariri, espaço marcado por muitas lutas políticas e lugar de destaque na
economia do Estado.
Durante nosso Doutoramento tivemos a necessidade de resgatar a história da educação na
região do Cariri Cearense. Naquele momento, nos deparamos com a falta de estudos sistematizados
acerca da temática ocasionando, no primeiro momento, a construção de um trabalho que, hoje, o
consideramos fragmentado. A experiência nos motivou ao desafio de lecionarmos, no Curso de
Pedagogia a Disciplina Historia da Educação no Ceará e no Cariri, situação oportuna para registrarmos
a história das instituições educacionais e de professores dos municípios da região, tomando por base os
estudos sobre histórias de instituições educacionais.
Foi assim que em 2003, com o apoio dos alunos da graduação matriculados na disciplina
iniciamos a experiência de articulação ensino e pesquisa, através de um Projeto Matricial intitulado:
“História da Educação no Cariri: resgatando história de instituições e de professores.”
A Pesquisa em História da Educação na Graduação
Estamos resgatando a história da educação no Ceará buscando registros oficiais e
particulares da história da educação da região do Cariri-a história das instituições educacionais e seus
principais sujeitos via fontes oficiais e orais. A primeira etapa da pesquisa se dá com o levantamento
das fontes já construídas de estudos anteriores, autores locais, pesquisas de outras universidades,
documentos, etc. Em seguida apresentamos na forma de Seminário as pesquisas realizadas pelos
alunos do Curso que anteriormente cursaram a Disciplina. Nesta ocasião eles relatam suas
experiências, sua motivação e as dificuldades permitindo aos novos pesquisadores o conhecimento
adquirido e a imensidão de oportunidades de resgate histórico na área de educação. Na seqüência, os
alunos em suas localidades vão buscar conhecer as instituições e suas histórias, a partir do relato dos
mais velhos, de políticos e/ou de familiares.
Durante as aulas os alunos traziam esses resultados e, em grupos, ajudávamos a definir o
objeto de estudo de cada um, mantendo a interlocução entre os grupos. Por vezes, alguns alunos
realizavam, individualmente ou mesmo em grupos constituídos por alunos que residiam no mesmo
município. Nas aulas também construímos os roteiros de pesquisa - roteiro de história de vida e de
instituições, roteiro de pesquisa em arquivos públicos e particulares e carta de apresentação da
pesquisa. Iniciamos todas as pesquisas e conciliamos as sessões das aulas em revisão de literatura
acerca do referencial teórico-metodológico e apresentação das etapas de execução do estudo. Ao final
de cada semestre realizávamos Seminários de apresentação dos resultados daqueles momentos, bem
como os registros escritos para que pudessem compor o acervo construído pela Pesquisa Matricial.
Registrando a História da Educação no Cariri Cearense
A referida pesquisa vem registrando a educação no Cariri Cearense envolvendo
levantamento documental oficial e privado, a memória de políticos, educadores e educandos, através
de entrevistas, histórias de vida, biografias, autobiografias e iconografias, que são gravadas e/ou
filmadas e fotografadas, adquirindo, assim, o caráter de documento e fonte de pesquisa histórica para
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constituição de um acervo, com a função de alimentar e ampliar permanentemente a área de pesquisa,
bem como o uso público do acervo catalogado pelos pesquisadores, professores, estudantes,
estagiários e público em geral.
Vale salientar que, dentro de nossos objetivos, também contemplamos a idéia de formar
um acervo iconográfico que poderá constituir um pequeno museu da memória da educação nesta
região do Estado. Até o momento resgatamos a história de 57 instituições educacionais e de 30
professores que datam dos séculos IX e XX. Apresentamos aqui os primeiros registros da pesquisa
realizados nos três principais municípios que compõem a região.
A Educação na Vila do Crato
Situando a história de emancipação da Região, lançamos mão de conhecer sua história
educacional. Figueiredo Filho (1966) registra a chegada ao Crato, em 1864, do Padre Ibiapina que
realizou obras caritativas nos setores social e educacional e a criação do Seminário São José, em 1875.
Este, era orientado pelos Padres Lazaristas, que difundiam a filosofia cristã através da formação de
quadros para a Igreja e através dos seus colégios de 1º e 2º Graus para formar a elite intelectual para a
região.
Visitando o Vale, nesse período, Padre Ibiapina disseminou, na região, o que seria sua
grande obra: as Casas de Caridade. Na ocasião fundou casas em Crato, Barbalha, Milagres e Missão
Velha.
As casas de caridade destinavam-se:
[...] a servir, simultaneamente, de escolas para as filhas dos fazendeiros e
comerciantes ricos, de orfanatos para as crianças das classes mais pobres, de
centro para a manufatura de tecidos baratos e, consoante a própria ambição
de Ibiapina, de convento para a sua congregação de freiras (DELLA CAVA,
1976, p. 34).
É importante registrar que suas obras atendiam as duas classes sociais, que aos utilizaremse
dos serviços das casas de caridade, pagavam com doações de terras e rendas e com serviços, este
último reservado aos pobres (Ibid., p. 34).
Ficou sob a responsabilidade da Comarca do Crato a implementação da educação
sistematizada, sob a vigilância da Igreja Católica. Com essa intenção foi criado o Seminário São José,
sendo a primeira escola de ensino superior, para formar quadros para a região. É por isso que
Cavalcante (1995) faz menção ao livro do Professor Raimundo de Oliveira Borges intitulado “O Crato
Intelectual”, publicado em 1995. Na ocasião, o mencionado Professor salienta:
Crato exerce, desde os seus primórdios, marcante influência sobre as demais
localidades do Cariri, e, até mais longe, em toda a vasta hinterlândia
nordestina. É por isso uma cidade grande. Não em extensão. Tamanho só
não é sinal de grandeza; grandeza é conteúdo, e o Crato tem conteúdo
(BORGES, 1995, p. 23).
O Seminário São José foi construído em 1874, por ordem de D. Luís, primeiro Bispo do
Ceará.2 Também pela Diocese, foi fundado, em 1909, o Colégio São José, posteriormente chamado de
“Gymnásio do Crato”, em 1927. O referido Ginásio tinha sede própria e tinha como proprietário o
Padre Francisco de Assis Pita. Entretanto, em 1935, foi vendido para a Diocese do Crato que o
equipou como o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, para atrair os filhos da classe alta da região.
No momento de instalação do Seminário Della Cava (1976) registra, período de
dificuldade vivida, em função da seca de 1877 a 1879, levando–o a cerrar as portas, sendo reaberta
somente em 1888 (Ibid., p. 38). Sua importância é crucial como detentora da instrução em todo o Vale.
2 Ainda hoje o Seminário funciona formando quadros em Teologia e Filosofia, porém este último curso
encontra-se comprometido por falta de seu reconhecimento pelo Conselho de Educação do Ceará.
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Além desse fato, a construção de um Seminário no interior significou a tomada de posição da igreja
brasileira ao conflito entre “uma igreja romanizada e as forças secularizantes da sociedade
brasileira” (op cit, p. 38).3
O Colégio Santa Teresa de Jesus foi também uma instituição criada para formar as filhos
da elite daquele período. Sua criação foi obra de Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, em
1923. Seu objetivo, de início, era formar as moças da região para não precisarem se deslocar para
outras cidades. Porém, em 1970, também começa a atender alunos do sexo masculino, obedecendo às
novas necessidades que se apresentavam na região.
Na década de 1960 a Diocese aglutina suas obras missionárias criando a Fundação Padre
Ibiapina. Criada em 1963, suas ações eram direcionadas para as áreas de Educação, Saúde e
Comunicação. Foram três instituições privadas: para a classe alta, a Faculdade de Filosofia do Crato e
para os filhos de família de baixa renda mantém o Patronato Padre Ibiapina e a Escola Santa
Madalena. Na área de saúde, funda o hospital São Francisco de Assis, a Maternidade do Crato e o
Hospital Infantil. Na área de educação informal e comunicação, cria a Escola de Líderes Rurais, o
Programa do MEB, a Pastoral da Infância e as Escolas Radiofônicas.4
A Escola de Música do Crato é outro feito que não pode ser esquecido, por contribuir para
a educação de jovens cratenses, principalmente aqueles oriundos da classe baixa. A Escola de música
foi criada em 1967, pelo Padre Ágio Augusto Moreira, no Sítio Belmonte, na Serra do Araripe. Suas
ações foram desenvolvidas no sentido de proporcionar ao homem rural o desenvolvimento das suas
habilidades artísticas. Ao longo da sua história, esta teve que se ampliar, oferecendo serviços como
teatro, pintura e escultura. Atualmente, ela funciona como Sociedade Lírica, ainda sob a direção do
Padre Ágio.
A história da Faculdade de Filosofia do Crato é atribuída, em seu nascedouro, ao Reitor da
UFC, Prof. Antônio Martins Filho. Criada em 1960, a Faculdade vem, na posição de Chagas,
responder ao desafio de formar recursos humanos – intelectuais no interior do estado. Assim ele
afirma:
Com efeito, a Faculdade de Filosofia do Crato, adentrando-se na polimorfia
cultural do interior de nosso Estado, repositório de uma riqueza diversificada
de valores humanos e naturais, formando uma individualidade própria
inconfundível, era a regionalização da Universidade e traduzia,
experimentalmente, o lema – O Universal pelo Regional – com que esse
extraordinário Reitor definira sua política universitária (CHAGAS, 1993, p.
98).
A Faculdade teve como primeiro Diretor o Professor José Newton Alves de Sousa, vindo,
na ocasião, de Salvador a convite do Reitor Martins Filho para assumir a missão. Porém, a criação da
Faculdade se deu pela busca de todos, ficando seu desenvolvimento e expansão numa situação
indefinida. Chagas denuncia: Urge registrar e repetir sempre, por causa das confusões e egoísmo do
mundo moderno, que esta Faculdade nasceu com idéia e sob a égide da Diocese do Crato, quando lhe
presidia o trono episcopal o Antístite da Oração [...] (Ibidem: p. 99–100). Na mesma denúncia, o
autor coloca a difícil situação da primeira instituição de ensino superior da região, que dirigida pela
Universidade Federal, fica sem apoio financeiro:
3 [...] Tais intenções tinham sido, em parte, inspiradas pelas mudanças que se operavam na Europa, onde as
tropas de uma monarquia italiana liberal haviam derrotado os Estados Papais e se apoderado de Roma, em
1870. Em todo o mundo católico os eclesiásticos condenavam a violência audaciosa dirigida contra a Sé de
Pedro; sintomaticamente, no Ceará, Dom Luís divulgou uma Carta Pastoral de protesto contra a invasão dos
Estados Papais. Em 1872, irrompeu o primeiro conflito importante entre a Igreja brasileira e a Nação.
Conhecido pelo nome de ‘questão religiosa’, surgiu o conflito quando o monarca Dom Pedro II mandou
prender dois bispos, processá-los e sentenciá-los pela posição que tomavam, sem autorização, contra a
maçonaria (DELLA CAVA, 1976, p. 38).
4 Informações retiradas do artigo escrito pelas professoras da URCA, Lireda de Alencar Noronha e Otonite de
Oliveira Cortez, publicado na Revista A Província, Nº 06, de janeiro de 1994.
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[...] De fato, a coisa era feia mesmo quando se falava em dinheiro. Basta
dizer que a Universidade Federal (e não invoco argumentos jurídicos em
favor de ninguém) descobriu uma forma, digamos de engabelar... Assumiu
somente a direção didática da Faculdade, o que, praticamente e
evidentemente, significava nada para nada vezes nada, em relação ao que
tangia, o barco.
Pior ainda: a Entidade mantenedora (outra palavra bonita) era a Diocese, não
alguma da Alemanha, mas a do Crato, pobre, a qual, já nas mãos, sagradas
de D. Vicente... todos sabiam: “Roma locuta, causa finita”. E, como não
havia dinheiro, a não ser sobras aleatórias daqui e dali, é claro que não havia,
nem a palavra, “orçamento”, mas, para substituí-la, a pesquisa dialetal, a
cargo do curso de letras, engendrou o homófono “ossamento, que em matéria
de política monetária e trabalhista significa “ossicação” dos que, pelo
trabalho, são remunerados simbolicamente (Ibidem, p. 100).
O autor ratifica a importância da Faculdade e a necessidade de uma definição no que diz
respeito ao financiamento. Na realidade, o que se assistiu foi à cobrança de mensalidade para os alunos
e interessados em cursar a faculdade. E a possibilidade de uma Faculdade gratuita foi esquecida. Sobre
a importância dessa faculdade o autor salienta:
Elevar – até 1960, o ensino de nossa zona só chegava ao nível médio,
exceção ao seminário Diocesano, onde, outrora, funcionou o Curso Superior.
A Faculdade permitiu, mais facilmente, o funcionamento do 3º ano colegial.
Reforçou os quadros docentes. Trouxe à região o selo da vida universitária.
Despertou e aproveitou vocações docentes, preparando-as e fixando-as no
próprio meio, implantou procedimentos e hábitos intelectuais, grandemente
proveitosos à cultura (Ibid, p. 102).
Também é importante registrar a criação de uma Escola fruto de uma luta política da
comunidade – o Colégio Wilson Gonçalves, conforme relata Brito:
Em reunião ordinária na sede do Cariri Sport Club o presidente lança a idéia
de uma campanha para a criação de um colégio estadual no Crato a fim de
atender às classes menos favorecidas economicamente. [...] Aprovada a
idéia, organizamos grande passeata estudantil, com faixas e banda de
música, com destino à residência do Dr. Wilson Gonçalves, então Vice-
Governador do Estado (BRITO, 1994, p. 111).
Fundado em 1961, o Colégio vinha representar os anseios da classe média assalariada do
Cariri que não tinha condições de colocar seus filhos nas escolas privadas da Diocese desinteressada
de uma educação profissionalizante, como era o caso da educação oferecida pelo Colégio Agrícola do
Crato e pela Escola Técnica do Comércio. Na realidade, essa classe buscava um ensino de qualidade
que preparasse seus filhos para os cursos superiores ofertados pelos grandes centros ou pela própria
Faculdade de Filosofia do Crato.
Com relação ao Colégio Wilson Gonçalves, a realidade não foi diferente. No seu
nascedouro, o Colégio buscava primar pela tradição das boas escolas da época, onde o conteudismo e
a disciplina eram primados.
No período da ditadura, mudanças ocorreram na legislação do ensino. Com a implantação
da Lei 5692/71, o Colégio Estadual, como é chamado, deixou de oferecer as disciplinas Filosofia e
Latim. Estas ficaram reservadas ao estudo dos padres e das elites dirigentes. Na realidade, o Estadual
passou a oferecer aos seus alunos, cursos profissionalizantes nas áreas de eletricidade, eletrônica e em
magistério.
Para lecionar as disciplinas técnicas, não importava ser professor, o importante era ter
1075
experiência e domínio técnico. Relembra Noronha:5
A nível de 2º Grau, o projeto dá ao ensino caráter profissionalizante,
universal e compulsório, tendo a clara finalidade de preparar mão-de-obra
barata para o mercado de trabalho, qualificada tecnicamente mas
disciplinada, dócil e ajustada as necessidades do sistema econômico em
vigência (NORONHA, 1993, p. 73).
Na década de 1960, a Cidade do Crato, de acordo com Leitinho foi marcada por:
[...] um contexto cultural e educacional bastante rico em atividades e
instituições. Dados fornecidos pela Diocese do Crato e pelo IBGE (1969)
revelam que só no município do Crato existiam 2 seminários, 3 colégios, 12
ginásios, 2 instituições culturais, 2 jornais, 15 bibliotecas, 5 livrarias, 3
cinemas, 3 tipografias, vários conjuntos musicais, grupos de teatro e folclore,
além do bandeirantismo e do escotismo, atividades consideradas de cunho
formativo e educacional. Contava o município, à época, com 660 professores
e 13.116 alunos (LEITINHO, 2000, p. 62).
De acordo com a autora, também foi criado, à época, o Curso de Direito da URCA,
inicialmente, como faculdade isolada ligada à UECE.
A Faculdade de Direito do Crato foi criada por advogados e Bacharéis,
juntamente com políticos da região. Ela foi instituída em 26 de julho de
1976, pela Prefeitura Municipal do Crato, através da Lei 822, assinada pelo
então Prefeito Dr. Pedro Felício (LEITINHO, 2000, p. 67).
A Educação Escolar em Barbalha
Inicialmente, como parte integrante do Crato, Barbalha foi fundada com o título de
“freguesia de Barbalha”. Sua história esteve ligada à história da Missão do Miranda,6 e seu nome teve
origem de um Sítio com o nome de uma mulher que tinha morado ali, conforme afirma Raimundo
Girão em seu livro intitulado “O Ceará”, de 1939,7 sendo que, em 1842, passou a Distrito policial e,
posteriormente, em 1846, tornou-se município.
A educação em Barbalha não teve a mesma expansão que no Crato. Sua história
educacional se dá pela fundação do Colégio Leão XII, em 1903, pelo Juiz de Comarca Manoel Soriano
de Albuquerque, referida escola tinha os padrões iguais aos dos estabelecimentos de ensino de grandes
cidades da época, para garantir a formação dos filhos dos grandes latifundiários.
De acordo com Sobrinho (1989), até o ano de 1921, o município de Barbalha possuiu
somente duas cadeiras primárias estaduais, duas municipais e três estaduais. Em 1923, foi instalado o
primeiro grupo escolar, durante o governo de Justiniano de Serpa e o Colégio São Geraldo, para
estudo dos jovens barbalhenses. Registra-se, em 1890 uma instituição escolar chamada “Gabinete de
Leitura”. Essa escola era reservada aos meninos pobres. Ligada a uma associação que mantinha seus
professores, a escola era noturna e, na época, registrou cerca de cem alunos. Na realidade, o Gabinete
de Leitura foi fundado em 14 de maio de 1889, na forma de biblioteca. Assim, ao mesmo tempo
mantinha a escola noturna para os meninos pobres.
Outra instituição escolar também registrada pelo autor é a “Escola da liga”, na forma de
Associação, foi fundada em 1917, funcionando, no turno diurno para meninas e no turno noturno para
5 NORONHA, Maria Lireda de Alencar. Resgate da Memória do Colégio Estadual. In: Revista A Província,
Nº 04, de Janeiro de 1993.
6 Informações presentes no livro de José de Figueiredo Filho. Nessa parte, o autor se reporta aos estudos de
Irineu Pinheiro em seu livro “Efemérides do Cariri” publicado pela Imprensa Universitária do Ceará, em
1963.
7 Figueiredo Filho. História do Cariri. Crato : Faculdade de Filosofia do Crato, 1966.
1076
os meninos.
Muitas escolas particulares também existiam na cidade, como o “Externato São José” com
curso secundário noturno, para os rapazes que trabalhavam, no comércio e queriam entender seus
estudos. Em 1944, foi fundado o “Centro de Melhoramentos de Barbalha” cujo objetivo era reunir os
barbalhenses em torno dos interesses ligados diretamente à terra (CALLOU, 1976 p. 47). Um dos
seus empreendimentos foi à criação de um colégio para a educação da mocidade. Sobre a educação
nesse período, o autor registra:
Ressente-se a nossa terra da falta de tudo isto, e uma das grandes lacunas é a
ausência de um estabelecimento de ensino secundário, onde eficientemente
seja ministrado à nossa juventude o curso de humanidades. Dezenas e
dezenas de estudantes de ambos os sexos freqüentam cursos em várias
cidades deste e de outros Estados, com dispêndio muitas vezes, oneroso a
economia dos pais [...] (Ibid, p. 47–48).
O referido Centro foi responsável pela criação dos dois principais colégios da cidade – o
Colégio Santo Antonio e o Ginásio e Escola Normal Nossa Senhora de Fátima, um dirigido pelos
Padres da Sociedade do Divino Salvador e o outro pelas irmãs da Ordem de São Bento (BARRETO,
1976, p. 50).
As Instituições Escolares no Juazeiro do Norte
A citação abaixo vem confirmar o empenho do Pe. Cícero, em fortalecer a educação no
Juazeiro:
Juntamente com a presente, passo às mais de V. Rev. ma. A cópia de duas
cartas que recebi da nunciatura. Apostólica, relativamente a doação que V.
Rev. Ma “deseja fazer aos Salesianos”, para o fim de fundar nessa cidade de
Joaseiro uma Escola Profissional destinada a educação de meninos pobres
(FRANCISCO BISPO DIOCESANO, 24/06/1993).
Anterior a chegada do Padre Cícero e da sua vontade em construir escolas para os pobres,
Oliveira (2001) registra que a primeira escola régia, naquele município, data de 1865:
Com a construção da capela Nossa Senhora das Dores na fazenda “Tabuleiro
Grande”, seu primeiro capelão, Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, iniciou o
trabalho sócio – educativo do pequeno povoado.
Reuniu alguns meninos de sua família e os filhos dos escravos, para
alfabetizar e ensinar a doutrina cristã.
Mas a primeira escola régia foi instalada aqui pelo 3º capelão, Padre Antônio
Almeida (OLIVEIRA, 2001, p. 273).
Com a ida, do referido capelão, no grupo de voluntários para a Guerra do Paraguai,
assumiu a regência da escola o professor Pedro Correia de Macedo e depois Semeão Correia de
Macedo, irmão de Pedro. Em 1890, já com o Padre Cícero, a segunda escola foi fundada sob a
regência da professora D. Naninha (Ana Joaquina de São José), reservada para as mulheres. Uma
década depois, são localizadas quatro escolas particulares, conforme registrou Souza: [...] Na década
de 1890 o Padre Cícero localizou quatro escolas particulares. Duas masculinas: regidas por
Guilherme Ramos de Maria e Mestre Miguel; duas femininas regidas por Izabel Montezuma da Luz e
Maria Cristina de Jesus Cristo (SOUZA, 1994, p. 26).
Oliveira (Ibidem, p. 274), ainda, registra que, sob a guarda vigilante do Padre Cícero,
outras escolas foram criadas e tiveram como professores Guilherme Ramos de Maria, Mestre Miguel,
Joaquim Siebra, com aulas para os meninos, e as professoras Isabel Montezuma da Luz, Maria
Cristina de Jesus Castro, para as meninas.
Em 1908, o professor e jornalista José Joaquim Teles Marrocos, ao mudar sua residência
1077
do Crato para Juazeiro, em função do apoio ao Padre Cícero e da amizade com o Padre, funda um
Colégio São José e uma Escola de Música (p. 275). Nessa escola o professor Marrocos ia além do
ensinar a ler e escrever. Lá era ensinado: Gramática Portuguesa, Aritmética, rudimentos de Francês e
Latim.
Na década de 1920, Oliveira assinala a chegada de duas escolas estaduais. Diz a autora:
Na segunda década do século atual, foram, instaladas em Juazeiro duas
escolas estaduais, ambas regidas por professoras diplomadas – a) D. Maria
Luiza Furtado que se casara com o Juazeirense Nazário Furtado Landim; b)
D. Josefa de Alcântara leite, conhecido por Dedé Leite, moça de Missão
Velha, que em Juazeiro, casou-se com um filho do primeiro matrimônio do
Sr. Nazário Landim, o Sr. Francisco Alencar, alto comerciante na cidade
(Ibidem, p. 278).
Em Della Cava (1976) encontramos o registro de que foi, na realidade, D. Maria
Gonçalves, a primeira professora em Joaseiro, formada profissionalmente (Ibid., p. 177).
Mas tarde com a morte da professora D. Maria Luiza e o afastamento de D. Déde Leite,
assumem suas cadeiras as professoras Raimunda Lemos e Adelaide Sousa Melo (Oliveira, 2001, p.
278). D. Raimunda fundou uma escola com o nome de “Colégio Santa Filomena e D. Adelaide Melo o
Colégio Salete”.
Oliveira (2001) faz referência ainda a dedicação à educação da Beata Cotinha, como ela
conhecida a professora Maria Cristina de Jesus Castro, diplomada pela Escola Normal do Rio Grande
do Norte e que veio para Juazeiro do Norte atraída pelos milagres (p. 279).
Conta que em 1899, sua escola que era particular, com a emancipação de Juazeiro tornouse
escola municipal. E, faz referência a escola noturna, para doméstica que a mesma mantinha. Nos
anos de 1912 e 1913, o professor Salustiano, criou a escola de nome “Escolas Funcionais”, que
também se dedicava às artes. Segundo Della Cava (1976), a maioria das escolas particulares era
mantida pelo Padre Cícero:
Em 1923, no entanto, Joaseiro, já podia orgulha-se de suas quatro escolas
primárias, financiadas pelo estado e pelo município, e de um grande número
de escolas particulares [...] Ainda em 1916, fundou, pessoalmente, um dos
primeiros orfanatos do interior, o Orfanato Jesus, Maria e José. [...] Em
1932, coube ao patriarca doar terras que lhe pertenciam para que o governo
criasse o primeiro colégio de formação de professores rurais, instalado,
finalmente, em 1934 com o nome de Escola Normal Rural, a primeira no
gênero a funcionar no Nordeste Brasileiro (Ibidem, p. 262).
Conta ainda que as escolas secundárias só não avançaram em função do domínio das
escolas do clero cratense. Porém, em 1941 fundou-se o primeiro colégio secundário de Joaseiro, que
não teve mais medo do domínio do Crato (p. 263). Dois colégios são destacados na história da
educação do Juazeiro do Norte: a) O Colégio São Miguel, para rapazes [...], b) O Colégio São
Geraldo. [...] dirigido pelo professor Edmundo Milfont, filho de Crato (OLIVEIRA, 2001, p. 273).
Juazeiro recebeu, ainda, a visita do professor Lourenço Filho – Diretor de Instrução do
Ceará. Na ocasião, Maria Gonçalves foi outra filha do Joaseiro que se formou na Escola Normal D.
Pedro II, depois Justiniano de Serpa (p. 283). Assim, Souza resume a educação de Juazeiro.
Em 1912, uma escola pública Professora Maria Luiza Furtado Landim.
Em 1916, Dr. Floro Bartolomeu instalou algumas escolas municipais [...]
Em 1920, o município criava mais duas escolas públicas [...]
Em 1922, o Professor Lourenço Filho, chamado de São Paulo pelo
Presidente Justiniano de Serpa, para Diretor de instrução no Ceará, iniciou a
reforma do curso Normal [...].
Em 1927, as cinco cadeiras isoladas existentes na cidade foram agrupadas e
a direção entregue a professora Maria Gonçalves [... ] construíram o
primeiro Grupo Escolar onde os alunos faziam até o terceiro ano primário.
1078
Em 1928, [...] Amália Xavier de Oliveira que não conseguindo uma cadeira
pública para lecionar, abriu uma escola particular que mais tarde daria
origem ao Colégio Santa Teresinha, hoje Ginásio Monsenhor Macêdo.
O ano de 1929 [...], surgiram naquele ano mais três escolas particulares: o
São Miguel, Colégio masculino sob a direção do professor Dr. Manoel
Pereira
Diniz, o São Geraldo, Colégio misto sob a direção do professor proprietário
Edmundo Milfont e o Colégio particular do professor Anchieta Gondim [...].
Em 1933, coube ao Pe. Cicero grande parcela na criação do patrimônio do
Instituto Educacional de Juazeiro do Norte para que se criasse a primeira
Escola Normal Rural do Brasil [...] em 1934 e Colégio São João Bosco em
1942 (SOUZA, 1994, p. 26-28).
Nossa intenção foi mostrar o potencial educacional de uma região e que merece destaque
no resgate da história da educação do Ceará. A realidade investigada tem nos mostrado que a região do
Cariri vem perdendo ao longo da sua história diversas instituições educacionais e em função da
mudança ou morte de seus educadores não vem conseguindo registrar sua história educacional.
Destacamos a história dessas instituições localizando-as com espaço de pesquisa importante para os
estudiosos da temática.
Instituições catalogadas
Conforme falamos anteriormente foram registradas cinqüenta e sete instituições, às quais
destacamos: Memórias do Orfanato Jesus Maria José – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1916;
Colégio Polivalente: Escola de Ensino Fundamental e Médio Presidente Geisel – Crato-CE, criado em
1977; Colégio Diocesano do Crato – criado em 1927; Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC –
Juazeiro do Norte –CE (1997); Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte – criada em 1934; Instituto
Cultural do Cariri – Crato-CE, criada em 1953; Colégio Santa Teresa de Jesus - Crato-CE, criado em
1923, Colégio Estadual Wilson Gonçalves – Crato – CE, criado em 1961; Escola Generosa Amélia da
Cruz – Santana do Cariri, criada em 1992; Colégio Nossa Senhora de Fátima – Barbalha – CE, criada
em 1958; Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. Romão Sampaio – Jardim - CE, criada em 1971;
Escola de 1º e 2º Graus Presidente Castelo Branco – Várzea Alegre, criada em 1971; Seminário São
José – Crato – CE, criado em 1875; Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI – Juazeiro
do Norte – CE, criado em 1970; Ginásio 24 de Março: hoje Ginásio Adauto Bezerra – Juazeiro do
Norte – CE, criado em 1961; Escola de Ensino Fundamental e Médio Maria Afonsina Diniz Macedo –
Várzea Alegre – CE - criado em 1979; Liceu de Juazeiro - Juazeiro do Norte – CE, criado em 2001;
Sociedade Lírica do Belmonte – SOLIBEL – Crato – CE, criado em 1960; Grupo Escolar Padre
Cícero – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1935; Centro Social Educativo Creche Comunitária Vila
Bom Jesus: Escolinha Poço de Jacó - Juazeiro do Norte – CE, criado em 1988; Ginásio Professor José
Bizerra de Britto - Crato – CE, criado em 1970; Escola de Ensino Fundamental e Médio Governador
Adauto Bezerra – Jardim – CE, criado em 1976; Centro Educacional Lyrio Callou; Patronato Padre
Ibiapina ou Escola Doméstica Nossa Senhora de Fátima – Crato – CE, criada em 1954; Externato 5 de
Julho – Crato – CE, criado em 1918; Escola CAIC de Juazeiro do Norte - Juazeiro do Norte – CE,
criado em 1995; Educandário XV de Novembro – Nova Olinda – CE, criado em 1948; Dispensário
Nossa Senhora Das Dores Maria Neli Sobreira - Juazeiro do Norte – CE, criado em 1948; Escola
Agrotécnica Federal do Crato - Crato – CE, criada em 1947; Escola de Ensino Fundamental José
Bezerra de Menezes – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1966; Fundação Caldeirão da Criança -
Juazeiro do Norte – CE, criado em 1983; Patronato Dona Zefinha Gomes – Milagres – CE – criado em
1957; Seminário Batista do Cariri – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1946; Ginásio São Francisco –
Juazeiro do Norte – CE, criado em 1950; Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET -
Juazeiro do Norte – CE, criado em 1994; Escola de Ensino Fundamental e Médio Mauro Sampaio –
Barro - CE – criada em 1983.
Histórias de vida
1079
Das trinta histórias de vida de professores catalogadas, registramos: Amália Xavier de
Oliveira - Juazeiro do Norte – CE; Antonieta Romão – Campos Sales -CE – 1933 – 1998; Josefa de
Matos Cordeiro – Nova Olinda –CE; Neusa Brito e Silva – Crato-CE; Maria Nilde Couto Bem –
Jardim –CE, 1947-1974; Maria Alcides Pinto de Macedo Almeida – Lavras da Mangabeira –CE;
Horácio Valdevino Belo – Barbalha –CE; Maria Pereira de Lacerda – Mauriti –CE; Maria de Lourdes
Morais da Cunha de Lima – Milagres –CE – 1955; Raimunda Machado de Lima – Lavras da
Mangabeira –CE, 1958; Maria Mirtes Ulisses Saraiva; Micol Noêmia de Alencar – Crato –CE, 1913;
Mundinha Saraiva – Crato –CE, 1912; Maria Carmelina Feitosa – Inhamuns – CE, 1921; Maria
Valdenora Nunes Moreira; Raimunda Maria Sampaio – Barbalha- CE, 1954; Maria Assunção
Gonçalves – Juazeiro do Norte –CE,1916; Francisca Mendes e Geraldo Menezes Barbosa – Juazeiro
do Norte –CE; e Maria Neli Sobreira – Juazeiro do Norte –CE, 1925.
Conclusões
Entendemos que a pesquisa histórica no campo educacional tem dupla valia: tanto pode
recuperar o passado educacional de uma região, quanto alimentar o sistema local e estadual de
planejamento educacional, em relação às necessidades presentes e futuras da sociedade. É uma prática
de pesquisa que tende a envolver diversos segmentos da sociedade de forma interessada a ponto de
extrapolar os muros da universidade. Como área de múltiplos interesses, a história educacional pode
envolver professores e alunos da área de história, geografia, sociologia, antropologia, letras,
engenharia, saúde, etc. Do ponto de vista do seu aprimoramento metodológico a área só tem a ganhar
com a formação de equipes multidisciplinares, desde que não perca de vista a sua função primordial de
reconstrução do passado educacional como fonte de reflexão para uma prática futura.
O espaço regional não é visto como um espaço social isolado, mas parte de uma teia de
relações de mobilidade espacial e cultural, material e simbólica da atividade social que acabam por
ligar todos os lugares e tempos do mundo. O resgate da História Educacional tem, neste contexto, um
papel relevante a ser considerado - a formação do professor-pesquisador. Observamos que a
experiência tem permitido a formação de um professor que busca conhecer sua realidade local, suas
relações com as outras realidades e a construção de sua identidade de professor que conhece e vivencia
a sua história.
Referências Bibliográficas
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QUEIROZ, Zuleide Fernandes de. Em cada um rosário, em cada quintal uma oficina: tradicional
e o novo na história da educação tecnológica do cariri cearense. Fortaleza, 2003. (Tese de
Doutorado)
PESQUISA E ENSINO NA GRADUAÇÃO
Zuleide Fernandes de Queiroz
Universidade Regional do Cariri
RESUMO
Durante nossos estudos de Doutoramento tivemos a necessidade de resgatar a história da educação na
região do Cariri Cearense. Naquele momento nos deparamos com a falta de estudos sistematizados
acerca da temática ocasionando, no primeiro momento, a construção de um trabalho que, hoje, o
consideramos fragmentado. A experiência nos motivou ao desafio de lecionarmos, no Curso de
Pedagogia a Disciplina Historia da Educação no Ceará e no Cariri, situação oportuna para registrarmos
a história das instituições educacionais e de professores dos municípios da região do Cariri, tomando
por base os estudos de Magalhães (1999) sobre histórias de instituições educacionais. Foi assim que
em 2003, com o apoio dos alunos da graduação matriculados na disciplina iniciamos a experiência de
articulação ensino e pesquisa. Através de um Projeto Matricial intitulado “História da Educação no
Cariri: resgatando história de instituições e de professores” estamos resgatando a história da
educação no Ceará buscando registros oficiais e particulares da história da educação da região - a
história das instituições educacionais e seus principais sujeitos, via fontes oficiais e orais. A primeira
etapa da pesquisa se dá com o levantamento das fontes já construídas de estudos anteriores, autores
locais, pesquisas de outras universidades, documentos, etc. Em seguida apresentamos na forma de
Seminário as pesquisas realizadas pelos alunos do Curso que anteriormente cursaram a Disciplina.
Nesta ocasião eles relatam suas experiências, sua motivação e as dificuldades oportunizando aos novos
pesquisadores o conhecimento novo e a imensidão de oportunidades de resgate histórico na área de
educação. Na seqüência, os alunos em suas localidades vão buscar conhecer as instituições e suas
histórias, a partir do relato dos mais velhos, de políticos e/ou de familiares. Durante as aulas os alunos
trazem esses resultados e em grupos ajudamos a definir o objeto de estudo de cada um ou de grupos
constituídos por alunos que residem no mesmo município. Nas aulas também construímos os roteiros
de pesquisa - roteiro de história de vida e de instituições, roteiro de pesquisa em arquivos públicos e
particulares e carta de apresentação da pesquisa. Iniciamos todas as pesquisas e conciliamos as sessões
das aulas em revisão de literatura acerca do referencial teórico-metodológico e apresentação das etapas
de execução do estudo. Ao final de cada semestre realizamos Seminário de apresentação dos
resultados daquele momento e os registros escritos compõem o acervo construído pela Pesquisa
Matricial. A referida pesquisa vem registrando a educação no Cariri Cearense envolvendo,
levantamento documental oficial e privado, a memória de políticos, educadores e educandos, através
de entrevistas, histórias de vida, biografias, autobiografias e iconografias, que são gravadas e/ou
filmadas e fotografadas, adquirindo, assim, o caráter de documento e fonte de pesquisa histórica para
constituição de um acervo, com a função de alimentar e ampliar permanentemente a área de pesquisa,
bem como o uso público do acervo catalogado pelos pesquisadores, professores, estudantes,
estagiários, bolsistas e público em geral. Vale salientar que, dentro de nossos objetivos também
contemplamos a idéia de formar um acervo iconográfico que poderá constituir um pequeno museu da
memória da educação nesta região do Estado. Até o momento resgatamos a história de 57 instituições
educacionais e de 30 professores que datam dos séculos IX e XX. Entendemos que a pesquisa
histórica no campo educacional tem dupla valia: tanto pode recuperar o passado educacional de uma
região, quanto alimentar o sistema local e estadual de planejamento educacional, em relação às
necessidades presentes e futuras da sociedade. É uma prática de pesquisa que tende a envolver
diversos segmentos da sociedade de forma interessada a ponto de extrapolar os muros da universidade.
Como área de múltiplos interesses, a história educacional pode envolver professores e alunos da área
de história, geografia, sociologia, antropologia, letras, engenharia, saúde, etc. Do ponto de vista do seu
aprimoramento metodológico, a área só tem a ganhar com a formação de equipes multidisciplinares,
desde que não perca de vista a sua função primordial de reconstrução do passado educacional como
fonte de reflexão para uma prática futura. O espaço regional não é visto como um espaço social
isolado, mas parte de uma teia de relações de mobilidade espacial e cultural, material e simbólica da
1070
atividade social que acabam por ligar todos os lugares e tempos do mundo. O resgate da História
Educacional tem, neste contexto, um papel relevante a ser considerado - a formação do professorpesquisador.
Observamos que a experiência tem permitido a formação de um professor que busca
conhecer sua realidade local, suas relações com as outras realidades e a construção de sua identidade
de professor que conhece e vivencia a sua história.
TRABALHO COMPLETO
1 – Ensino de História da Educação
Introdução
Sabendo da necessidade de ter uma visão mais integrada das diversas instituições
educacionais existentes na região, sentimos a necessidade de conhecer as origens de suas formações.
Saber da importância de conhecer esta história nos remete à leitura do trabalho de Magalhães,
fundamental para a definição dos atores a serem pesquisados – as instituições educativas, no caso
específico, as instituições educacionais da região do Cariri, que ao longo do seu desenvolvimento
foram responsáveis pela formação escolar de seu povo.
Nosso interesse pelo tema tem como referência os trabalhos já publicados e as reflexões
acumuladas na área. Magalhães afirma que um estudo desta natureza é carregado de significado, pois
assim se:
[...] constrói um projeto pedagógico, indo ao encontro de um determinado
público, constituindo-se, deste modo, a relação e a razão fundamentais para a
manutenção e desenvolvimento do seu projeto educativo – um processo que
envolve dimensões humanas, culturais e profissionais de diversas naturezas:
dimensões pedagógicas, sociológicas, administrativas, relações de poder e de
comunicação, relações de transmissão e apropriação do saber 1
(MAGALHÃES, 1999, p. 69).
A escolha do estudo de instituições se deveu ao fato de podermos conhecer a história
educacional. Ou seja, saímos do nível das idéias e intenções e passarmos a visitar ou revisitar o
cotidiano das instituições educacionais e da vida dos atores envolvidos, podendo assim, gerar novos
estudos acerca de uma temática tão importante para a história de um lugar. Pois:
O quotidiano de uma instituição educativa é um acúmulo de comunicação,
tomada de decisões e de participação, cuja representação e memória apenas
em parte ficam vertidas a escrito, ou traduzidas noutro tipo de registros, mas
boa parte das quais se apagam, quer por se integrar em rotinas, quer pela sua
freqüência, não constituem um objecto de registro próprio, quer porque se
inserem num processo continuado, tendendo a fixar-se-lhe o princípio e o
fim, sendo este, em regra, assinalado por um registro dos resultados. É assim
com o processo de ensino-aprendizagem; os alunos inscrevem-se através de
um termo de matrícula e o seu percurso escolar fica assinalado e numa
certificação final. Do processo de ensino, para além destes mesmos
resultados, fica apenas uma memória analógica suportada pelos sumários. De
facto, o cotidiano de uma instituição educativa fica representado por defeito,
nos registros e fontes de informação, havendo mesmo dimensões desse
quotidiano, cuja memória se apaga com a mudança dos actores e muitas
outras que são regularmente destruídas. (MAGALHÃES, 1999, p. 69).
Na verdade, o estudo da história das instituições pode tomar um sentido de pesquisa em
nível interno e externo, em suas relações sócio-político-econômicas com o poder local. Em nível
interno, o estudo das instituições leva as próprias instituições a uma avaliação da sua trajetória e o
1 Magalhães, Justino Pereira. Breve Apontamento para a história das instituições educativas. São Paulo:
Cortez, 1999.
1071
pesquisador ao entendimento das relações destas com a política governamental, nos casos em estudo.
Nesse sentido, o estudo poderá objetivar ainda:
[...] conhecer e caracterizar os órgãos de gestão, direcção, explicar como se
efetua a comunicação interna e externamente; conhecer e caracterizar as
relações de poder, as hierarquias e as instâncias com capacidade de decisão;
conhecer e caracterizar o corpo docente, administrativo e auxiliar; conhecer
e avaliar as formas de participação por parte dos diversos actores, a título
individual, grupal ou de representação; conhecer a relação e a participação
da comunidade envolvente; as relações com o poder central e com os
poderes regionais e locais (Ibid. p. 71).
O estudo se situa num determinado local e com uma temporalidade marcada por situações
próprias da sua realidade. No caso, estamos falando de uma pesquisa realizada no sul do Ceará, mais
especificamente da região do Cariri, espaço marcado por muitas lutas políticas e lugar de destaque na
economia do Estado.
Durante nosso Doutoramento tivemos a necessidade de resgatar a história da educação na
região do Cariri Cearense. Naquele momento, nos deparamos com a falta de estudos sistematizados
acerca da temática ocasionando, no primeiro momento, a construção de um trabalho que, hoje, o
consideramos fragmentado. A experiência nos motivou ao desafio de lecionarmos, no Curso de
Pedagogia a Disciplina Historia da Educação no Ceará e no Cariri, situação oportuna para registrarmos
a história das instituições educacionais e de professores dos municípios da região, tomando por base os
estudos sobre histórias de instituições educacionais.
Foi assim que em 2003, com o apoio dos alunos da graduação matriculados na disciplina
iniciamos a experiência de articulação ensino e pesquisa, através de um Projeto Matricial intitulado:
“História da Educação no Cariri: resgatando história de instituições e de professores.”
A Pesquisa em História da Educação na Graduação
Estamos resgatando a história da educação no Ceará buscando registros oficiais e
particulares da história da educação da região do Cariri-a história das instituições educacionais e seus
principais sujeitos via fontes oficiais e orais. A primeira etapa da pesquisa se dá com o levantamento
das fontes já construídas de estudos anteriores, autores locais, pesquisas de outras universidades,
documentos, etc. Em seguida apresentamos na forma de Seminário as pesquisas realizadas pelos
alunos do Curso que anteriormente cursaram a Disciplina. Nesta ocasião eles relatam suas
experiências, sua motivação e as dificuldades permitindo aos novos pesquisadores o conhecimento
adquirido e a imensidão de oportunidades de resgate histórico na área de educação. Na seqüência, os
alunos em suas localidades vão buscar conhecer as instituições e suas histórias, a partir do relato dos
mais velhos, de políticos e/ou de familiares.
Durante as aulas os alunos traziam esses resultados e, em grupos, ajudávamos a definir o
objeto de estudo de cada um, mantendo a interlocução entre os grupos. Por vezes, alguns alunos
realizavam, individualmente ou mesmo em grupos constituídos por alunos que residiam no mesmo
município. Nas aulas também construímos os roteiros de pesquisa - roteiro de história de vida e de
instituições, roteiro de pesquisa em arquivos públicos e particulares e carta de apresentação da
pesquisa. Iniciamos todas as pesquisas e conciliamos as sessões das aulas em revisão de literatura
acerca do referencial teórico-metodológico e apresentação das etapas de execução do estudo. Ao final
de cada semestre realizávamos Seminários de apresentação dos resultados daqueles momentos, bem
como os registros escritos para que pudessem compor o acervo construído pela Pesquisa Matricial.
Registrando a História da Educação no Cariri Cearense
A referida pesquisa vem registrando a educação no Cariri Cearense envolvendo
levantamento documental oficial e privado, a memória de políticos, educadores e educandos, através
de entrevistas, histórias de vida, biografias, autobiografias e iconografias, que são gravadas e/ou
filmadas e fotografadas, adquirindo, assim, o caráter de documento e fonte de pesquisa histórica para
1072
constituição de um acervo, com a função de alimentar e ampliar permanentemente a área de pesquisa,
bem como o uso público do acervo catalogado pelos pesquisadores, professores, estudantes,
estagiários e público em geral.
Vale salientar que, dentro de nossos objetivos, também contemplamos a idéia de formar
um acervo iconográfico que poderá constituir um pequeno museu da memória da educação nesta
região do Estado. Até o momento resgatamos a história de 57 instituições educacionais e de 30
professores que datam dos séculos IX e XX. Apresentamos aqui os primeiros registros da pesquisa
realizados nos três principais municípios que compõem a região.
A Educação na Vila do Crato
Situando a história de emancipação da Região, lançamos mão de conhecer sua história
educacional. Figueiredo Filho (1966) registra a chegada ao Crato, em 1864, do Padre Ibiapina que
realizou obras caritativas nos setores social e educacional e a criação do Seminário São José, em 1875.
Este, era orientado pelos Padres Lazaristas, que difundiam a filosofia cristã através da formação de
quadros para a Igreja e através dos seus colégios de 1º e 2º Graus para formar a elite intelectual para a
região.
Visitando o Vale, nesse período, Padre Ibiapina disseminou, na região, o que seria sua
grande obra: as Casas de Caridade. Na ocasião fundou casas em Crato, Barbalha, Milagres e Missão
Velha.
As casas de caridade destinavam-se:
[...] a servir, simultaneamente, de escolas para as filhas dos fazendeiros e
comerciantes ricos, de orfanatos para as crianças das classes mais pobres, de
centro para a manufatura de tecidos baratos e, consoante a própria ambição
de Ibiapina, de convento para a sua congregação de freiras (DELLA CAVA,
1976, p. 34).
É importante registrar que suas obras atendiam as duas classes sociais, que aos utilizaremse
dos serviços das casas de caridade, pagavam com doações de terras e rendas e com serviços, este
último reservado aos pobres (Ibid., p. 34).
Ficou sob a responsabilidade da Comarca do Crato a implementação da educação
sistematizada, sob a vigilância da Igreja Católica. Com essa intenção foi criado o Seminário São José,
sendo a primeira escola de ensino superior, para formar quadros para a região. É por isso que
Cavalcante (1995) faz menção ao livro do Professor Raimundo de Oliveira Borges intitulado “O Crato
Intelectual”, publicado em 1995. Na ocasião, o mencionado Professor salienta:
Crato exerce, desde os seus primórdios, marcante influência sobre as demais
localidades do Cariri, e, até mais longe, em toda a vasta hinterlândia
nordestina. É por isso uma cidade grande. Não em extensão. Tamanho só
não é sinal de grandeza; grandeza é conteúdo, e o Crato tem conteúdo
(BORGES, 1995, p. 23).
O Seminário São José foi construído em 1874, por ordem de D. Luís, primeiro Bispo do
Ceará.2 Também pela Diocese, foi fundado, em 1909, o Colégio São José, posteriormente chamado de
“Gymnásio do Crato”, em 1927. O referido Ginásio tinha sede própria e tinha como proprietário o
Padre Francisco de Assis Pita. Entretanto, em 1935, foi vendido para a Diocese do Crato que o
equipou como o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, para atrair os filhos da classe alta da região.
No momento de instalação do Seminário Della Cava (1976) registra, período de
dificuldade vivida, em função da seca de 1877 a 1879, levando–o a cerrar as portas, sendo reaberta
somente em 1888 (Ibid., p. 38). Sua importância é crucial como detentora da instrução em todo o Vale.
2 Ainda hoje o Seminário funciona formando quadros em Teologia e Filosofia, porém este último curso
encontra-se comprometido por falta de seu reconhecimento pelo Conselho de Educação do Ceará.
1073
Além desse fato, a construção de um Seminário no interior significou a tomada de posição da igreja
brasileira ao conflito entre “uma igreja romanizada e as forças secularizantes da sociedade
brasileira” (op cit, p. 38).3
O Colégio Santa Teresa de Jesus foi também uma instituição criada para formar as filhos
da elite daquele período. Sua criação foi obra de Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, em
1923. Seu objetivo, de início, era formar as moças da região para não precisarem se deslocar para
outras cidades. Porém, em 1970, também começa a atender alunos do sexo masculino, obedecendo às
novas necessidades que se apresentavam na região.
Na década de 1960 a Diocese aglutina suas obras missionárias criando a Fundação Padre
Ibiapina. Criada em 1963, suas ações eram direcionadas para as áreas de Educação, Saúde e
Comunicação. Foram três instituições privadas: para a classe alta, a Faculdade de Filosofia do Crato e
para os filhos de família de baixa renda mantém o Patronato Padre Ibiapina e a Escola Santa
Madalena. Na área de saúde, funda o hospital São Francisco de Assis, a Maternidade do Crato e o
Hospital Infantil. Na área de educação informal e comunicação, cria a Escola de Líderes Rurais, o
Programa do MEB, a Pastoral da Infância e as Escolas Radiofônicas.4
A Escola de Música do Crato é outro feito que não pode ser esquecido, por contribuir para
a educação de jovens cratenses, principalmente aqueles oriundos da classe baixa. A Escola de música
foi criada em 1967, pelo Padre Ágio Augusto Moreira, no Sítio Belmonte, na Serra do Araripe. Suas
ações foram desenvolvidas no sentido de proporcionar ao homem rural o desenvolvimento das suas
habilidades artísticas. Ao longo da sua história, esta teve que se ampliar, oferecendo serviços como
teatro, pintura e escultura. Atualmente, ela funciona como Sociedade Lírica, ainda sob a direção do
Padre Ágio.
A história da Faculdade de Filosofia do Crato é atribuída, em seu nascedouro, ao Reitor da
UFC, Prof. Antônio Martins Filho. Criada em 1960, a Faculdade vem, na posição de Chagas,
responder ao desafio de formar recursos humanos – intelectuais no interior do estado. Assim ele
afirma:
Com efeito, a Faculdade de Filosofia do Crato, adentrando-se na polimorfia
cultural do interior de nosso Estado, repositório de uma riqueza diversificada
de valores humanos e naturais, formando uma individualidade própria
inconfundível, era a regionalização da Universidade e traduzia,
experimentalmente, o lema – O Universal pelo Regional – com que esse
extraordinário Reitor definira sua política universitária (CHAGAS, 1993, p.
98).
A Faculdade teve como primeiro Diretor o Professor José Newton Alves de Sousa, vindo,
na ocasião, de Salvador a convite do Reitor Martins Filho para assumir a missão. Porém, a criação da
Faculdade se deu pela busca de todos, ficando seu desenvolvimento e expansão numa situação
indefinida. Chagas denuncia: Urge registrar e repetir sempre, por causa das confusões e egoísmo do
mundo moderno, que esta Faculdade nasceu com idéia e sob a égide da Diocese do Crato, quando lhe
presidia o trono episcopal o Antístite da Oração [...] (Ibidem: p. 99–100). Na mesma denúncia, o
autor coloca a difícil situação da primeira instituição de ensino superior da região, que dirigida pela
Universidade Federal, fica sem apoio financeiro:
3 [...] Tais intenções tinham sido, em parte, inspiradas pelas mudanças que se operavam na Europa, onde as
tropas de uma monarquia italiana liberal haviam derrotado os Estados Papais e se apoderado de Roma, em
1870. Em todo o mundo católico os eclesiásticos condenavam a violência audaciosa dirigida contra a Sé de
Pedro; sintomaticamente, no Ceará, Dom Luís divulgou uma Carta Pastoral de protesto contra a invasão dos
Estados Papais. Em 1872, irrompeu o primeiro conflito importante entre a Igreja brasileira e a Nação.
Conhecido pelo nome de ‘questão religiosa’, surgiu o conflito quando o monarca Dom Pedro II mandou
prender dois bispos, processá-los e sentenciá-los pela posição que tomavam, sem autorização, contra a
maçonaria (DELLA CAVA, 1976, p. 38).
4 Informações retiradas do artigo escrito pelas professoras da URCA, Lireda de Alencar Noronha e Otonite de
Oliveira Cortez, publicado na Revista A Província, Nº 06, de janeiro de 1994.
1074
[...] De fato, a coisa era feia mesmo quando se falava em dinheiro. Basta
dizer que a Universidade Federal (e não invoco argumentos jurídicos em
favor de ninguém) descobriu uma forma, digamos de engabelar... Assumiu
somente a direção didática da Faculdade, o que, praticamente e
evidentemente, significava nada para nada vezes nada, em relação ao que
tangia, o barco.
Pior ainda: a Entidade mantenedora (outra palavra bonita) era a Diocese, não
alguma da Alemanha, mas a do Crato, pobre, a qual, já nas mãos, sagradas
de D. Vicente... todos sabiam: “Roma locuta, causa finita”. E, como não
havia dinheiro, a não ser sobras aleatórias daqui e dali, é claro que não havia,
nem a palavra, “orçamento”, mas, para substituí-la, a pesquisa dialetal, a
cargo do curso de letras, engendrou o homófono “ossamento, que em matéria
de política monetária e trabalhista significa “ossicação” dos que, pelo
trabalho, são remunerados simbolicamente (Ibidem, p. 100).
O autor ratifica a importância da Faculdade e a necessidade de uma definição no que diz
respeito ao financiamento. Na realidade, o que se assistiu foi à cobrança de mensalidade para os alunos
e interessados em cursar a faculdade. E a possibilidade de uma Faculdade gratuita foi esquecida. Sobre
a importância dessa faculdade o autor salienta:
Elevar – até 1960, o ensino de nossa zona só chegava ao nível médio,
exceção ao seminário Diocesano, onde, outrora, funcionou o Curso Superior.
A Faculdade permitiu, mais facilmente, o funcionamento do 3º ano colegial.
Reforçou os quadros docentes. Trouxe à região o selo da vida universitária.
Despertou e aproveitou vocações docentes, preparando-as e fixando-as no
próprio meio, implantou procedimentos e hábitos intelectuais, grandemente
proveitosos à cultura (Ibid, p. 102).
Também é importante registrar a criação de uma Escola fruto de uma luta política da
comunidade – o Colégio Wilson Gonçalves, conforme relata Brito:
Em reunião ordinária na sede do Cariri Sport Club o presidente lança a idéia
de uma campanha para a criação de um colégio estadual no Crato a fim de
atender às classes menos favorecidas economicamente. [...] Aprovada a
idéia, organizamos grande passeata estudantil, com faixas e banda de
música, com destino à residência do Dr. Wilson Gonçalves, então Vice-
Governador do Estado (BRITO, 1994, p. 111).
Fundado em 1961, o Colégio vinha representar os anseios da classe média assalariada do
Cariri que não tinha condições de colocar seus filhos nas escolas privadas da Diocese desinteressada
de uma educação profissionalizante, como era o caso da educação oferecida pelo Colégio Agrícola do
Crato e pela Escola Técnica do Comércio. Na realidade, essa classe buscava um ensino de qualidade
que preparasse seus filhos para os cursos superiores ofertados pelos grandes centros ou pela própria
Faculdade de Filosofia do Crato.
Com relação ao Colégio Wilson Gonçalves, a realidade não foi diferente. No seu
nascedouro, o Colégio buscava primar pela tradição das boas escolas da época, onde o conteudismo e
a disciplina eram primados.
No período da ditadura, mudanças ocorreram na legislação do ensino. Com a implantação
da Lei 5692/71, o Colégio Estadual, como é chamado, deixou de oferecer as disciplinas Filosofia e
Latim. Estas ficaram reservadas ao estudo dos padres e das elites dirigentes. Na realidade, o Estadual
passou a oferecer aos seus alunos, cursos profissionalizantes nas áreas de eletricidade, eletrônica e em
magistério.
Para lecionar as disciplinas técnicas, não importava ser professor, o importante era ter
1075
experiência e domínio técnico. Relembra Noronha:5
A nível de 2º Grau, o projeto dá ao ensino caráter profissionalizante,
universal e compulsório, tendo a clara finalidade de preparar mão-de-obra
barata para o mercado de trabalho, qualificada tecnicamente mas
disciplinada, dócil e ajustada as necessidades do sistema econômico em
vigência (NORONHA, 1993, p. 73).
Na década de 1960, a Cidade do Crato, de acordo com Leitinho foi marcada por:
[...] um contexto cultural e educacional bastante rico em atividades e
instituições. Dados fornecidos pela Diocese do Crato e pelo IBGE (1969)
revelam que só no município do Crato existiam 2 seminários, 3 colégios, 12
ginásios, 2 instituições culturais, 2 jornais, 15 bibliotecas, 5 livrarias, 3
cinemas, 3 tipografias, vários conjuntos musicais, grupos de teatro e folclore,
além do bandeirantismo e do escotismo, atividades consideradas de cunho
formativo e educacional. Contava o município, à época, com 660 professores
e 13.116 alunos (LEITINHO, 2000, p. 62).
De acordo com a autora, também foi criado, à época, o Curso de Direito da URCA,
inicialmente, como faculdade isolada ligada à UECE.
A Faculdade de Direito do Crato foi criada por advogados e Bacharéis,
juntamente com políticos da região. Ela foi instituída em 26 de julho de
1976, pela Prefeitura Municipal do Crato, através da Lei 822, assinada pelo
então Prefeito Dr. Pedro Felício (LEITINHO, 2000, p. 67).
A Educação Escolar em Barbalha
Inicialmente, como parte integrante do Crato, Barbalha foi fundada com o título de
“freguesia de Barbalha”. Sua história esteve ligada à história da Missão do Miranda,6 e seu nome teve
origem de um Sítio com o nome de uma mulher que tinha morado ali, conforme afirma Raimundo
Girão em seu livro intitulado “O Ceará”, de 1939,7 sendo que, em 1842, passou a Distrito policial e,
posteriormente, em 1846, tornou-se município.
A educação em Barbalha não teve a mesma expansão que no Crato. Sua história
educacional se dá pela fundação do Colégio Leão XII, em 1903, pelo Juiz de Comarca Manoel Soriano
de Albuquerque, referida escola tinha os padrões iguais aos dos estabelecimentos de ensino de grandes
cidades da época, para garantir a formação dos filhos dos grandes latifundiários.
De acordo com Sobrinho (1989), até o ano de 1921, o município de Barbalha possuiu
somente duas cadeiras primárias estaduais, duas municipais e três estaduais. Em 1923, foi instalado o
primeiro grupo escolar, durante o governo de Justiniano de Serpa e o Colégio São Geraldo, para
estudo dos jovens barbalhenses. Registra-se, em 1890 uma instituição escolar chamada “Gabinete de
Leitura”. Essa escola era reservada aos meninos pobres. Ligada a uma associação que mantinha seus
professores, a escola era noturna e, na época, registrou cerca de cem alunos. Na realidade, o Gabinete
de Leitura foi fundado em 14 de maio de 1889, na forma de biblioteca. Assim, ao mesmo tempo
mantinha a escola noturna para os meninos pobres.
Outra instituição escolar também registrada pelo autor é a “Escola da liga”, na forma de
Associação, foi fundada em 1917, funcionando, no turno diurno para meninas e no turno noturno para
5 NORONHA, Maria Lireda de Alencar. Resgate da Memória do Colégio Estadual. In: Revista A Província,
Nº 04, de Janeiro de 1993.
6 Informações presentes no livro de José de Figueiredo Filho. Nessa parte, o autor se reporta aos estudos de
Irineu Pinheiro em seu livro “Efemérides do Cariri” publicado pela Imprensa Universitária do Ceará, em
1963.
7 Figueiredo Filho. História do Cariri. Crato : Faculdade de Filosofia do Crato, 1966.
1076
os meninos.
Muitas escolas particulares também existiam na cidade, como o “Externato São José” com
curso secundário noturno, para os rapazes que trabalhavam, no comércio e queriam entender seus
estudos. Em 1944, foi fundado o “Centro de Melhoramentos de Barbalha” cujo objetivo era reunir os
barbalhenses em torno dos interesses ligados diretamente à terra (CALLOU, 1976 p. 47). Um dos
seus empreendimentos foi à criação de um colégio para a educação da mocidade. Sobre a educação
nesse período, o autor registra:
Ressente-se a nossa terra da falta de tudo isto, e uma das grandes lacunas é a
ausência de um estabelecimento de ensino secundário, onde eficientemente
seja ministrado à nossa juventude o curso de humanidades. Dezenas e
dezenas de estudantes de ambos os sexos freqüentam cursos em várias
cidades deste e de outros Estados, com dispêndio muitas vezes, oneroso a
economia dos pais [...] (Ibid, p. 47–48).
O referido Centro foi responsável pela criação dos dois principais colégios da cidade – o
Colégio Santo Antonio e o Ginásio e Escola Normal Nossa Senhora de Fátima, um dirigido pelos
Padres da Sociedade do Divino Salvador e o outro pelas irmãs da Ordem de São Bento (BARRETO,
1976, p. 50).
As Instituições Escolares no Juazeiro do Norte
A citação abaixo vem confirmar o empenho do Pe. Cícero, em fortalecer a educação no
Juazeiro:
Juntamente com a presente, passo às mais de V. Rev. ma. A cópia de duas
cartas que recebi da nunciatura. Apostólica, relativamente a doação que V.
Rev. Ma “deseja fazer aos Salesianos”, para o fim de fundar nessa cidade de
Joaseiro uma Escola Profissional destinada a educação de meninos pobres
(FRANCISCO BISPO DIOCESANO, 24/06/1993).
Anterior a chegada do Padre Cícero e da sua vontade em construir escolas para os pobres,
Oliveira (2001) registra que a primeira escola régia, naquele município, data de 1865:
Com a construção da capela Nossa Senhora das Dores na fazenda “Tabuleiro
Grande”, seu primeiro capelão, Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, iniciou o
trabalho sócio – educativo do pequeno povoado.
Reuniu alguns meninos de sua família e os filhos dos escravos, para
alfabetizar e ensinar a doutrina cristã.
Mas a primeira escola régia foi instalada aqui pelo 3º capelão, Padre Antônio
Almeida (OLIVEIRA, 2001, p. 273).
Com a ida, do referido capelão, no grupo de voluntários para a Guerra do Paraguai,
assumiu a regência da escola o professor Pedro Correia de Macedo e depois Semeão Correia de
Macedo, irmão de Pedro. Em 1890, já com o Padre Cícero, a segunda escola foi fundada sob a
regência da professora D. Naninha (Ana Joaquina de São José), reservada para as mulheres. Uma
década depois, são localizadas quatro escolas particulares, conforme registrou Souza: [...] Na década
de 1890 o Padre Cícero localizou quatro escolas particulares. Duas masculinas: regidas por
Guilherme Ramos de Maria e Mestre Miguel; duas femininas regidas por Izabel Montezuma da Luz e
Maria Cristina de Jesus Cristo (SOUZA, 1994, p. 26).
Oliveira (Ibidem, p. 274), ainda, registra que, sob a guarda vigilante do Padre Cícero,
outras escolas foram criadas e tiveram como professores Guilherme Ramos de Maria, Mestre Miguel,
Joaquim Siebra, com aulas para os meninos, e as professoras Isabel Montezuma da Luz, Maria
Cristina de Jesus Castro, para as meninas.
Em 1908, o professor e jornalista José Joaquim Teles Marrocos, ao mudar sua residência
1077
do Crato para Juazeiro, em função do apoio ao Padre Cícero e da amizade com o Padre, funda um
Colégio São José e uma Escola de Música (p. 275). Nessa escola o professor Marrocos ia além do
ensinar a ler e escrever. Lá era ensinado: Gramática Portuguesa, Aritmética, rudimentos de Francês e
Latim.
Na década de 1920, Oliveira assinala a chegada de duas escolas estaduais. Diz a autora:
Na segunda década do século atual, foram, instaladas em Juazeiro duas
escolas estaduais, ambas regidas por professoras diplomadas – a) D. Maria
Luiza Furtado que se casara com o Juazeirense Nazário Furtado Landim; b)
D. Josefa de Alcântara leite, conhecido por Dedé Leite, moça de Missão
Velha, que em Juazeiro, casou-se com um filho do primeiro matrimônio do
Sr. Nazário Landim, o Sr. Francisco Alencar, alto comerciante na cidade
(Ibidem, p. 278).
Em Della Cava (1976) encontramos o registro de que foi, na realidade, D. Maria
Gonçalves, a primeira professora em Joaseiro, formada profissionalmente (Ibid., p. 177).
Mas tarde com a morte da professora D. Maria Luiza e o afastamento de D. Déde Leite,
assumem suas cadeiras as professoras Raimunda Lemos e Adelaide Sousa Melo (Oliveira, 2001, p.
278). D. Raimunda fundou uma escola com o nome de “Colégio Santa Filomena e D. Adelaide Melo o
Colégio Salete”.
Oliveira (2001) faz referência ainda a dedicação à educação da Beata Cotinha, como ela
conhecida a professora Maria Cristina de Jesus Castro, diplomada pela Escola Normal do Rio Grande
do Norte e que veio para Juazeiro do Norte atraída pelos milagres (p. 279).
Conta que em 1899, sua escola que era particular, com a emancipação de Juazeiro tornouse
escola municipal. E, faz referência a escola noturna, para doméstica que a mesma mantinha. Nos
anos de 1912 e 1913, o professor Salustiano, criou a escola de nome “Escolas Funcionais”, que
também se dedicava às artes. Segundo Della Cava (1976), a maioria das escolas particulares era
mantida pelo Padre Cícero:
Em 1923, no entanto, Joaseiro, já podia orgulha-se de suas quatro escolas
primárias, financiadas pelo estado e pelo município, e de um grande número
de escolas particulares [...] Ainda em 1916, fundou, pessoalmente, um dos
primeiros orfanatos do interior, o Orfanato Jesus, Maria e José. [...] Em
1932, coube ao patriarca doar terras que lhe pertenciam para que o governo
criasse o primeiro colégio de formação de professores rurais, instalado,
finalmente, em 1934 com o nome de Escola Normal Rural, a primeira no
gênero a funcionar no Nordeste Brasileiro (Ibidem, p. 262).
Conta ainda que as escolas secundárias só não avançaram em função do domínio das
escolas do clero cratense. Porém, em 1941 fundou-se o primeiro colégio secundário de Joaseiro, que
não teve mais medo do domínio do Crato (p. 263). Dois colégios são destacados na história da
educação do Juazeiro do Norte: a) O Colégio São Miguel, para rapazes [...], b) O Colégio São
Geraldo. [...] dirigido pelo professor Edmundo Milfont, filho de Crato (OLIVEIRA, 2001, p. 273).
Juazeiro recebeu, ainda, a visita do professor Lourenço Filho – Diretor de Instrução do
Ceará. Na ocasião, Maria Gonçalves foi outra filha do Joaseiro que se formou na Escola Normal D.
Pedro II, depois Justiniano de Serpa (p. 283). Assim, Souza resume a educação de Juazeiro.
Em 1912, uma escola pública Professora Maria Luiza Furtado Landim.
Em 1916, Dr. Floro Bartolomeu instalou algumas escolas municipais [...]
Em 1920, o município criava mais duas escolas públicas [...]
Em 1922, o Professor Lourenço Filho, chamado de São Paulo pelo
Presidente Justiniano de Serpa, para Diretor de instrução no Ceará, iniciou a
reforma do curso Normal [...].
Em 1927, as cinco cadeiras isoladas existentes na cidade foram agrupadas e
a direção entregue a professora Maria Gonçalves [... ] construíram o
primeiro Grupo Escolar onde os alunos faziam até o terceiro ano primário.
1078
Em 1928, [...] Amália Xavier de Oliveira que não conseguindo uma cadeira
pública para lecionar, abriu uma escola particular que mais tarde daria
origem ao Colégio Santa Teresinha, hoje Ginásio Monsenhor Macêdo.
O ano de 1929 [...], surgiram naquele ano mais três escolas particulares: o
São Miguel, Colégio masculino sob a direção do professor Dr. Manoel
Pereira
Diniz, o São Geraldo, Colégio misto sob a direção do professor proprietário
Edmundo Milfont e o Colégio particular do professor Anchieta Gondim [...].
Em 1933, coube ao Pe. Cicero grande parcela na criação do patrimônio do
Instituto Educacional de Juazeiro do Norte para que se criasse a primeira
Escola Normal Rural do Brasil [...] em 1934 e Colégio São João Bosco em
1942 (SOUZA, 1994, p. 26-28).
Nossa intenção foi mostrar o potencial educacional de uma região e que merece destaque
no resgate da história da educação do Ceará. A realidade investigada tem nos mostrado que a região do
Cariri vem perdendo ao longo da sua história diversas instituições educacionais e em função da
mudança ou morte de seus educadores não vem conseguindo registrar sua história educacional.
Destacamos a história dessas instituições localizando-as com espaço de pesquisa importante para os
estudiosos da temática.
Instituições catalogadas
Conforme falamos anteriormente foram registradas cinqüenta e sete instituições, às quais
destacamos: Memórias do Orfanato Jesus Maria José – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1916;
Colégio Polivalente: Escola de Ensino Fundamental e Médio Presidente Geisel – Crato-CE, criado em
1977; Colégio Diocesano do Crato – criado em 1927; Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC –
Juazeiro do Norte –CE (1997); Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte – criada em 1934; Instituto
Cultural do Cariri – Crato-CE, criada em 1953; Colégio Santa Teresa de Jesus - Crato-CE, criado em
1923, Colégio Estadual Wilson Gonçalves – Crato – CE, criado em 1961; Escola Generosa Amélia da
Cruz – Santana do Cariri, criada em 1992; Colégio Nossa Senhora de Fátima – Barbalha – CE, criada
em 1958; Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. Romão Sampaio – Jardim - CE, criada em 1971;
Escola de 1º e 2º Graus Presidente Castelo Branco – Várzea Alegre, criada em 1971; Seminário São
José – Crato – CE, criado em 1875; Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI – Juazeiro
do Norte – CE, criado em 1970; Ginásio 24 de Março: hoje Ginásio Adauto Bezerra – Juazeiro do
Norte – CE, criado em 1961; Escola de Ensino Fundamental e Médio Maria Afonsina Diniz Macedo –
Várzea Alegre – CE - criado em 1979; Liceu de Juazeiro - Juazeiro do Norte – CE, criado em 2001;
Sociedade Lírica do Belmonte – SOLIBEL – Crato – CE, criado em 1960; Grupo Escolar Padre
Cícero – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1935; Centro Social Educativo Creche Comunitária Vila
Bom Jesus: Escolinha Poço de Jacó - Juazeiro do Norte – CE, criado em 1988; Ginásio Professor José
Bizerra de Britto - Crato – CE, criado em 1970; Escola de Ensino Fundamental e Médio Governador
Adauto Bezerra – Jardim – CE, criado em 1976; Centro Educacional Lyrio Callou; Patronato Padre
Ibiapina ou Escola Doméstica Nossa Senhora de Fátima – Crato – CE, criada em 1954; Externato 5 de
Julho – Crato – CE, criado em 1918; Escola CAIC de Juazeiro do Norte - Juazeiro do Norte – CE,
criado em 1995; Educandário XV de Novembro – Nova Olinda – CE, criado em 1948; Dispensário
Nossa Senhora Das Dores Maria Neli Sobreira - Juazeiro do Norte – CE, criado em 1948; Escola
Agrotécnica Federal do Crato - Crato – CE, criada em 1947; Escola de Ensino Fundamental José
Bezerra de Menezes – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1966; Fundação Caldeirão da Criança -
Juazeiro do Norte – CE, criado em 1983; Patronato Dona Zefinha Gomes – Milagres – CE – criado em
1957; Seminário Batista do Cariri – Juazeiro do Norte – CE, criado em 1946; Ginásio São Francisco –
Juazeiro do Norte – CE, criado em 1950; Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET -
Juazeiro do Norte – CE, criado em 1994; Escola de Ensino Fundamental e Médio Mauro Sampaio –
Barro - CE – criada em 1983.
Histórias de vida
1079
Das trinta histórias de vida de professores catalogadas, registramos: Amália Xavier de
Oliveira - Juazeiro do Norte – CE; Antonieta Romão – Campos Sales -CE – 1933 – 1998; Josefa de
Matos Cordeiro – Nova Olinda –CE; Neusa Brito e Silva – Crato-CE; Maria Nilde Couto Bem –
Jardim –CE, 1947-1974; Maria Alcides Pinto de Macedo Almeida – Lavras da Mangabeira –CE;
Horácio Valdevino Belo – Barbalha –CE; Maria Pereira de Lacerda – Mauriti –CE; Maria de Lourdes
Morais da Cunha de Lima – Milagres –CE – 1955; Raimunda Machado de Lima – Lavras da
Mangabeira –CE, 1958; Maria Mirtes Ulisses Saraiva; Micol Noêmia de Alencar – Crato –CE, 1913;
Mundinha Saraiva – Crato –CE, 1912; Maria Carmelina Feitosa – Inhamuns – CE, 1921; Maria
Valdenora Nunes Moreira; Raimunda Maria Sampaio – Barbalha- CE, 1954; Maria Assunção
Gonçalves – Juazeiro do Norte –CE,1916; Francisca Mendes e Geraldo Menezes Barbosa – Juazeiro
do Norte –CE; e Maria Neli Sobreira – Juazeiro do Norte –CE, 1925.
Conclusões
Entendemos que a pesquisa histórica no campo educacional tem dupla valia: tanto pode
recuperar o passado educacional de uma região, quanto alimentar o sistema local e estadual de
planejamento educacional, em relação às necessidades presentes e futuras da sociedade. É uma prática
de pesquisa que tende a envolver diversos segmentos da sociedade de forma interessada a ponto de
extrapolar os muros da universidade. Como área de múltiplos interesses, a história educacional pode
envolver professores e alunos da área de história, geografia, sociologia, antropologia, letras,
engenharia, saúde, etc. Do ponto de vista do seu aprimoramento metodológico a área só tem a ganhar
com a formação de equipes multidisciplinares, desde que não perca de vista a sua função primordial de
reconstrução do passado educacional como fonte de reflexão para uma prática futura.
O espaço regional não é visto como um espaço social isolado, mas parte de uma teia de
relações de mobilidade espacial e cultural, material e simbólica da atividade social que acabam por
ligar todos os lugares e tempos do mundo. O resgate da História Educacional tem, neste contexto, um
papel relevante a ser considerado - a formação do professor-pesquisador. Observamos que a
experiência tem permitido a formação de um professor que busca conhecer sua realidade local, suas
relações com as outras realidades e a construção de sua identidade de professor que conhece e vivencia
a sua história.
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e o novo na história da educação tecnológica do cariri cearense. Fortaleza, 2003. (Tese de
Doutorado)
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